Fui convidado para participar de um painel muito interessante no Festival Clube de Criação “IA Generativa, 3D, Vídeo Mapping, FOOH, DOOH: como aproveitar de fato as tecnologias do OOH”,– ao lado de dois gigantes criativos, Rogério Chaves (coCCO da Africa Creative) e o Tiago Zanatta (ACD da Galeria.ag), e também de grandes nomes do OOH no Brasil, Alessandra Malheiros (VP da ALTMRK OOH GROUP), Silvia Ramazzotti (CMO da JCDecaux Brasil), Chico Preto Francisco S. Xavier (CEO da CHICOOH +).
A conversa foi sobre algo que me move há anos: o poder real do OOH de ocupar território, transformar paisagem e gerar impacto coletivo, especialmente agora, em um momento em que criatividade e tecnologia se encontram para reinventar a forma como a mídia dialoga com as pessoas e com as cidades.
Mas mais do que falar sobre a mídia OOH em si, falamos sobre criação e criatividade, e também, por incrível que pareça, legislação.
Discutimos como é importante nós, indústria, estarmos próximos dos criativos, entendendo não só o que eles querem expressar, mas como podemos ajudar a transformar ideias em realidade, dentro das regras, dos contextos e das possibilidades que a cidade oferece.
Porque não se trata apenas de disponibilizar uma plataforma de mídia para o criativo usar, mas de ensinar a usar, por que usar e como pensar o OOH.
De mostrar que cada ponto de contato do OOH tem suas regras, contexto e momento.
Que o veículo pode, e deve, ser um parceiro da criação, não apenas um ponto de contato do mídia nas agências.
E que o OOH pode e precisa estar integrado ao ecossistema criativo, inspirando, colaborando e educando.
Do fake ao real: o impacto que fica
Nos últimos anos, o “fake OOH”, ou FOOH, tomou conta das redes. Vídeos simulando campanhas grandiosas, animações hiper-reais, explosões de criatividade digital.
Eles serviram para provar o quanto o grande formato é poderoso.
Mas também nos lembraram de algo essencial: a mágica só é completa quando acontece na rua.
O FooH pode provocar curiosidade.
Mas é no real que nasce o pertencimento.
Na lona que muda o dia de quem passa, a banca que serve a cidade, no painel que devolve valor ao espaço público.
É aí que o OOH mostra o que tem de mais bonito: ser coletivo, acessível e ético.
Do hype à regeneração
O OOH está vivendo sua fase mais fascinante, e também a mais desafiadora.
De um lado, a tecnologia nos impulsiona: telas digitais, IA, heatmaps, simulações climáticas, campanhas dinâmicas em tempo real.
Hoje é possível ajustar uma campanha conforme o clima, o evento do dia, o fluxo de pessoas.
“Acordou um puta sol? Muda o criativo. Tá chovendo? Fale com quem tá abrigado.”
Esse é o poder do contexto.
De outro lado, surge um novo chamado: evoluir do “legal” para o “ético”.
Não basta respeitar a legislação, é hora de praticar autorregulação e regeneração.
Mídia regenerativa é quando o painel não só comunica, mas melhora o entorno.
Quando devolve serviço à cidade:
• uma tela que ajuda pessoas com deficiência visual,
• um painel de led que gera energia solar,
• uma empena digital que informa.
Isso é OOH como serviço público, não só como inventário comercial.
Descentralizar é democratizar
Outro ponto que mexeu com todos na sala: o Brasil com Z precisa dar lugar ao Brasil com S.
Por muito tempo, a concentração de mídia em São Paulo e Rio criou uma miopia estratégica.
Mas há vida, audiência, e muita criatividade pelas ruas, além da Paulista.
Cidades como Recife, Fortaleza e Belo Horizonte e tantas outras vivem uma efervescência cultural e econômica imensa.
Levar o OOH pra esses lugares é espalhar impacto, democratizar presença e ampliar conversas reais.
E mais: ideias simples escalam.
Não é a tecnologia que faz uma campanha gigante, é a clareza, a legibilidade, o símbolo forte.
Como foi dito no painel: “O difícil é fazer o simples. A ideia simples é a que escala.”
Profissionalizar, ousar e medir
O futuro do OOH passa por três pilares:
1- Profissionalização. Tratar o meio como uma disciplina, com núcleos especializados, dados de audiência e integração com BI e CRM.
2- Ousadia. Com IA e simulações, não se paga pra pensar, se ousa pra testar. Prototipar rápido é o novo briefing.
3- Mensuração. Com neurociência e IA, já é possível comprovar que o grande formato gera até 5x mais impacto emocional e financeiro do que outros meios. Dados que traduzem o que sempre soubemos intuitivamente: o OOH mexe com o olhar, com a memória e com o coração.
O que ficou da conversa
O painel terminou com uma energia alta, e intensidade na sala.
Um misto de encantamento e consciência.
De riso e reflexão.
De “fake é legal”, mas “real é transformador”.
De “mídia” pra “movimento”.
Saí de lá com a certeza de que o OOH está vivendo um novo capítulo , mais humano, mais tecnológico, mais próximo da criação.
E com um compromisso coletivo: fazer da cidade um meio melhor para se viver, criar e comunicar.