Saúde Mental: uma oportunidade para cuidar do hoje e do futuro
A NR-1 é a norma que estabelece as diretrizes gerais de Saúde e Segurança no Trabalho no Brasil. Até pouco tempo, seu foco estava em riscos físicos, químicos e ergonômicos. Mas, com a atualização publicada em 2024 e que passa a valer em 2026, um novo capítulo se abre: os riscos psicossociais – como sobrecarga, assédio, pressão excessiva e falta de apoio, entre outros – agora também são reconhecidos como riscos ocupacionais que devem ser identificados e mitigados.
A nova redação da NR-1, chamada de “lei da saúde mental”, reforça que o bem-estar emocional e a saúde psíquica dos trabalhadores passam a fazer parte das obrigações legais das organizações. Mais do que um ajuste técnico, trata-se de um marco que reconhece a existência do adoecimento emocional e o papel das empresas em enfrenta-lo.
A atualização da NR-1 desafia as empresas de OOH a refletir: quais entregas são esperadas pela norma? Quais ações trarão resultados concretos? E qual deve ser o limite ou a extensão da responsabilidade empresarial na gestão dos riscos psicossociais?
A complexidade do cenário atual
As mudanças tecnológicas e o impacto dos pós-Covid moldaram um novo cenário em que a subjetividade passou a ocupar lugar central no trabalho. Hoje, as emoções e as relações pessoais atravessam o desempenho profissional, enquanto organização do trabalho influencia diretamente a vida pessoal.
Já é possível enxergar, nos números de mercado, o peso crescente dos riscos psicossociais para empresas de todos os portes:
- Entre 2022 e 2024, os afastamentos por questões emocionais cresceram 134%. Esse aumento coloca em risco a disponibilidade e a produtividade da força de trabalho nas empresas.
- As ausências já custam ao país R$ 81 bilhões ao ano e, parte desse valor se traduz em perda de margem e queda de competividade.
- O presenteísmo representa um risco ainda maior. Esse impacto visível pode ultrapassar R$ 200 bilhões anuais, muitas vezes sem a devida atenção da gestão.
- Iniciativas de bem-estar movimentam R$ 18 bilhões ao ano, com crescimento superior a 10%, evidenciando alternativas estruturadas e eficazes.
Esses dados mostram que saúde emocional não é apenas um tema humano: é também um fator de desempenho e retenção. Ao entender seu papel organizacional, as empresas descobrem uma oportunidade: em vez de tratar a NR-1 como burocracia, podem transformá-la em um diferencial, fortalecendo cultura, engajamento e produtividade.
Um novo olhar sobre o que já fazemos: a cultura
Os riscos psicossociais não são apenas questões individuais, mas refletem o modo como organização trabalha e lidera. Olhar para a cultura não significa entrar em longos processos de mudança: significa fazer um diagnóstico preciso, capaz de identificar onde estão as causas reais dos problemas.
O que a NR-1 propõe não e engessar ou padronizar os múltiplos formatos das empresas OOH, mas sim cuidar das condições de trabalho para que sejam sustentáveis.
Do debate às práticas
A boa notícia é que muitas práticas já estão presentes na vida de muitos empregadores em todo o Brasil: rodas de conversa, feedbacks frequentes, reconhecimento público, etc. O diferencial agora é transformar essas iniciativas em política estruturada, mostrando que cuidar das pessoas também é estratégia.
E isso pode ser feito com passos simples, independentemente do porte da empresa:
- Diagnóstico acessível: pesquisas rápidas recorrentes de clima, conversas em grupo ou entrevistas anônimas ajudam a mapear riscos psicossociais como sobrecarga, falta de clareza de função ou conflitos interpessoais.
- Planos de ação enxuto: revisar metas, criar pausas e reforçar canais de escuta já fazem diferença. Pequenos ajustes evitam que a intensidade vire desgaste.
- Freelancers PJs: como parte essencial do ecossistema das empresas de OOH, eles também devem ser considerados na gestão de riscos, com contratos claros e acessos a canais de comunicação.
- Jurídico e compliance como aliados: revisar contratos, adaptar códigos de conduta e registrar ações preventivas fortalecendo a proteção legal quanto a cultura organizacional.
Cultura como alicerce
Investir em saúde mental não significa apenas criar programas pontuais ou cumprir uma norma. O que realmente sustenta o trabalho criativo é a cultura: o modo como a empresa organiza seus processos, distribui autonomia, reconhece resultados e conduz suas lideranças.
É esse alicerce que transforma pressão em engajamento, prazos em colaboração e desafios em inovação. Mais do que ações isoladas, é a base organizacional que define se a energia das equipes será combustível para criar ou fonte de desgaste.
Falar em gestão é também falar em como as pessoas vivem o dia a dia de OOH. A atualização da NR-1 convida justamente a isso: integrar cuidado às práticas de trabalho, não como um adendo, mas como parte estratégica. Cada empresa, em qualquer modelo, pode fortalecer sua saúde organizacional cultivando cultura – e é nesse cotidiano, feito de relações e práticas, que se desenha a verdadeira vantagem competitiva.